sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Pequena crise de identidade.

Posso ter vários tamanhos. Posso ter várias cores. Diferentes texturas. Diversos formatos. Sou usado de mil diferentes maneiras, mas a minha finalidade basicamente é sempre a mesma. E, na verdade, ela não é muito valorizada. Há até quem me renegue, me arranque e me deixe na gaveta. Passo frio, fome, fico na companhia de traças. Abandonado.

Há quem simplesmente nem note minha ausência. Sou arrancado, às pressas, sem querer, em um rápido movimento entre dois corpos. Então fico lá, no chão. No dia seguinte meu lar retorna ao armário e eu continuo no piso frio e sujo. Na semana seguinte me varrem e me esquecem, depois de alguns chutes.

Sou trocado também frequentemente por concorrentes. Me utilizar gera muito movimento. Muita energia é gasta no processo todo. Meu concorrente é puxado em um só toque. Uma força. Leva metade do tempo que levaria comigo. Mas o meu maior pesadelo tem um nome que todos gostam: estilistas, alfaiates, costureiras, modelos e simples usuários. Fico lá, preso, sem nunca ser usado, sem nunca mostrar meu potencial. Prefiro a gaveta, o fundo do armário, a rua chuvosa, o chão sujo. Prefiro estar sempre em uso, sem descanso. Prefiro descascar, ser tingido. Prefiro ser recapado por um tecido florido. Prefiro nem ser utilizado a ser um botão de um bolso falso.