quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Trick or treat?!


O Halloween, dia 31 de outubro, é uma comemoração muito comum nos Estados Unidos. Foi levada aos norte-americanos, na verdade, por irlandeses imigrantes. Na véspera do Dia de Todos os Santos, o último dia do verão celta, as pessoas enfeitavam as ruas e suas casas com objetos assutadores, como caveiras e abóboras decoradas, para espantar os espíritos que saíam dos cemitérios para dar uma mordidinha nos corpos dos vivos. Os zumbis!

A data é chamada ainda de Dia das Bruxas por tratar-se de uma festa pagã. Quem festejava neste dia era condenado pela Inquisição à morte na fogueira, história já conhecida por todos. Após muitos anos que a Igreja Católica apropriou-se da festa e cristianizou a data. Foi quando nasceu o Dia de Finados, bela contradição, hein no dia 2 de novembro.

A presença do Halloween no Brasil é bastante recente. Deve-se principalmente à chegada da televisão e aos cursos de língua inglesa, que buscam vivenciar a cultura norte-americana com seus alunos.
Desde 2005, no dia 31 de outubro é comemorado também o Dia do Saci em terras tupiniquins, como forma de valorização à cultura do país.

Mas o povo brasileiro, festeiro que é, só quer saber de sair e beber no feriadão. Nada de doces ou travessuras, o que importa é se fantasiar e dançar a noite inteira.
Para os atrasadinhos, vão algumas dicas de fantasias. Quem já tem a sua, pode aproveitar de inspiração para o ano que vem ou para qualquer outra festa à fantasia! Chega de fantasminhas, bruxas e zumbis.


Pra quem tá a fim de uma peruquinha fácil...
MIA WALLACE, de Pulp Fiction
Porque basta se jogar na camisa branca, na calça escura deixando aparecer a sapatilha, no batonzinho marcado e no perucão chanel com franjinha. Só não pode esquecer de arrasar nas dancinhas all night long.


Pra quem tem um chapéu da estação passada em casa...
ALEX DELARGE, de Clockwork Orange
É só se vestir de branco. Calça e camisa. Põe um coturno nos pés. Bota o chapéuzinho. Ah, e não pode esquecer dos super cílios no olho direito! E tá pronto pra uma noite de muito horrorshow. Se tiver um saqueiro(?) e uma bengalinha estilo, melhor ainda.




Pra quem come quieto e não quer ser encontrado...
WALLY, de Where's Wally?
Camiseta listrada vermelha e branca, calça jeans, gorro listrado nas mesmas cores, óculos e bengalinha. Quer mais fácil e divertido ao mesmo tempo?


Pra quem tá a fim de mudar o cabelo...
DAVID BOWIE
Tem um gelzinho em casa? Então joga esse cabelo pra trás num topetão, pinta de vermelho, faz o raio colorido no olho e coloca a roupa mais estilo que tiver no quarda-roupa. Se quiser misturar as décadas, se joga na sombra azul e põe um tapa-olho que no Halloween tá valendo tudo.


Pra quem tá pensando em se casar... hehehe
A NOIVA DE CHUCKY
Fácil, fácil. Vestido de noiva, jaqueta de couro, coturno nos pés. Faz um olho bem preto, bem carregado. Uma boca também preta. E deixa essa raiz escura crescer!


Pra quem tem corpão (ou coragem!)...
MOULIN ROUGE
Exagera na make, no brilho, nas jóias, rendas e plumas. Só não deixa a cinta-liga de fora, hein.
acho um lusho esse clipe!


Pra quem tá a fim de um topete...
ROCKABILLY
Esse serve tanto para homens quanto para mulheres. E o melhor é que se tu gostar, pode seguir usando depois do Halloween.
Pega uma jaqueta de couro do pai, sobe num saltinho ou põe um coturno, se aproveita das bolinhas, oncinhas, zebrinhas, listrinhas nos vestidos e camisas e põe as tatuagens à mostra! Tudo pronto, abusa no fixador pra deixar o topete de pé a noite toda.



E pra quem quiser entrar mais a fundo no clima Halloween, pega a sua celebrs do momento preferida e mata ela!
Quer mais tendência que Lady Gaga, Pink, Katy Perry, Lindsay Lohan e Madonna zumbis?!

À Primeira Vista de Uma Vida


Menino Deus. O bairro mais antigo de Porto Alegre. O bairo onde está localizado aquele prédio. Alto. Não sabe-se ao certo quantos andares, mas certamente são mais de treze. É no décimo terceiro andar que se encontram, deitados na rede. Serenos. Os dois com os respectivos olhares longe. Não nas estrelas, pois as estrelas já estão sendo visadas por muita gente nessa noite iluminada e aconchegante. Casais apaixonados e solteiros desiludidos já habitam cada espaço possível desses enormes corpos celestes luminosos.

Seus olhos estão focados é no futuro. No passado muito recente, há poucos meses, já unidos, que lhes trouxe ao presente, só os dois, e há de mantê-los juntos.

Arthur, desde criança alto e forte, descendente de família tradicional alemã. Há 4 meses com barba ralinha, por fazer, somente sendo aparada. A palavra simpatia lhe define. Maior não só na altura, tem 25 anos. Miguel, magricelo, tatuado, cabelo escuro que passa da altura das orelhas. Ainda com 24 anos. Tímido e sonhador. O encanto que lhes cercou teve início quatro meses atrás. Acreditam que foi amor à primeira vista. E foi. Mas aconteceu muito antes do que eles imaginam.

Juliana está terminando de calçar a sandália dourada de 14 cm de altura. Ao menos já está vestida. Arthur acha que devia pôr mais roupa. Vestido tão curto assim quase não tem pano para tapar o corpo. Mas a namorada do aniversariante tem de estar bonita, ainda mais em uma noite especial como essa. Arthur já está acostumado a esperar por ela. Apenas coloca uma camiseta, pega um casaco, nem escova os cabelos e está pronto. Mas é porque você é lindo, Arthur. Eu tenho que me produzir para andar ao seu lado.

Do outro lado da cidade, Guilherme envia um SMS para Miguel. “Aniversário de um amigo meu hoje à noite. O Arthur. Passo aí daqui a uma hora”. Quarenta minutos depois, sem vontade, Miguel vai para baixo do chuveiro. Deixa a água escorrer por todo o seu corpo, cansado, sem vontade de sair de casa depois de um dia inteiro de trabalho. Só está fazendo isso pelo amor que sente por Guilherme. O namoro havia passado por uma crise recentemente, então todo esforço era obrigatório. Não podia perdê-lo.

Enquanto Juliana buscava mais uma dose de vodka com energético para os dois, Arthur permanecia entre as rodas de amigos, sempre atento à porta, receptivo e muito educado. Foi neste momento que Guilherme apareceu na entrada, com Miguel atrás dele. Deu um abraço apertado no amigo, parabenizando-lhe e, logo após, apresentou os dois. Arthur e Miguel. Por alguns segundos, que para os dois significou um intervalo de tempo muito maior, hesitaram. Ficaram completamente sem reação, deslumbrados com o que viam. Se viam. Um se viu no outro. Um teve vontade de passar o resto da vida ao lado do outro. Ficaram imóveis. Imaginaram vidas juntas. Caminhos traçados. Futuros. Tudo isso em menos de 5 segundos. Tempo que para eles durou uma eternidade. Quando Juliana retornou com os copos, numa tentativa de cumprimentar Miguel, é que os dois voltaram da epifania por que estavam passando. Ao se aproximarem, para um abraço, era só o cheiro de Arthur que Miguel sentia. Arthur estremeceu quando os cabelos de Miguel passaram perto de sua orelha. Não teve vontade de soltá-lo mais. Mas Juliana já se aproximava para dar um abraço no novo amigo do seu namorado.

Passaram a noite assim, se olhando, de longe. Quando Guilherme beijava Miguel, era em Arthur que o Miguel pensava. Quando Juliana se aproximava, Arthur estranhava aquele corpo tão magro, tão curvado e doce. Feminino demais. Queria abraçar Miguel novamente. Queria sentir sua respiração. Ver o futuro em seus olhos. Sentia falta de barba no rosto de Juliana, mesmo sem nunca ter beijado outro homem. Estava lavando as mãos, quando ouve uma batida na porta. Apressa-se para liberar o banheiro logo, mas leva um susto quando vê Miguel na sua frente, colado em seu corpo. Eles entram no banheiro.

Vinte e um anos atrás. Um menino de 3 anos está brincando, sozinho, aos olhos de seus pais, entre as árvores do Parque Farroupilha. Miguel. Até que aproxima-se outra criança, sorrindo, correndo, e sem convidar, passa a brincar junto com ele. Arthur. Passaram o resto da manhã unidos, sem se importar com os animais em volta, com seus pais ou com os palhaços que passavam tentando vender bolinhas de brinquedo. Se perderam em seus mundos imaginários, apenas os dois.  Os brinquedos foram esquecidos e nada mais importava para eles. Um tinha ao outro. Miguel e Arthur, nesse dia, mal faziam ideia do que viria a acontecer com eles. O futuro que um via no olho do outro, sem se dar conta do que via. Mas gostavam. O que aconteceu com os dois naquele dia, naquele parque, acontece diariamente com todos. Sem maturidade e consciência para ter total conhecimento do que se passa, cruzamos por amores à primeira vista mais de uma vez nas nossas vidas antes deles se tornarem amores de uma vida.

Texto, bastante cru, para a disciplina de Português Aplicado à Comunicação II. A proposta era criar a partir de uma foto de desconhecidos.
Futuro ainda incerto, mas me rendeu um 9.8. Tá valendo.

Foto: BetoMR querido

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

"O Cara"

E eis que Paulo encontrou Roberta. Paulo Coelho, não. O Paulo. Somente Paulo. Não interessa o sobrenome de Paulo nessa história.Talvez em outra, mas não nessa. Ok, pare de insistir. Eu não vou contar. Acredito que Paulo nem tenha sobrenome ainda. Ele está recém nascendo.

Está bem. Paulo Klein. Está bem assim? Está satisfeito? Posso continuar a minha história agora ou tem mais alguma dúvida?

Paulo (Klein) encontrou Roberta. Foi em um show. Um show de rock. Pagode não faz show; faz alguma apresentação com algum outro nome, mas não show. No show de rock Roberta foi encontrada por Paulo. E foi salva de sua bolha da mesmisse.

A cada dia com uma pessoa diferente. A cada dia em um lugar diferente. A cada dia chegando em casa em horários diferentes. Mas então ela não fazia sempre a mesma coisa. Não estava no tédio. Roberta fazia sempre a mesma coisa, apenas com pessoas diferentes e em lugares diferentes. As conversas eram sempre as mesmas. O sexo era sempre igual. Saía e chegava em casa sempre depois das 5 horas. O que a mantinha presente no nosso mundo era sempre conhecer gente nova. Era o que ainda lhe motivava. Inconsciente.

Mas, ainda que no tédio, Roberta era feliz. E ela era feliz conscientemente. Roberta nem imaginava que em tamanho tédio a sua vida se encontrava. Até conhecer Paulo.

Roberta era "um cara legal". Não era a mulher mais bonita da noite. Não era também a mais popular. Nem mesmo a mulher que todos os caras queriam. Mas era um cara legal. E ele estava ali. Não interessava como ele era. Bastava ele estar ali.

E o encontro aconteceu.

Foi mais que um cara diferente. Foi o cara. Isso ela não sabia. Ela achava que era um cara diferente, apenas isso, como todos os outros. Mas Paulo tornou-se o cara diferente fixo. Roberta não conhecia mais caras diferentes. Paulo, para ela, era sempre outro cara. Diferente, mas sempre o mesmo. E a ela, Paulo bastava. Era por isso que Paulo não era, já naquela primeira noite, apenas mais um cara diferente. Era o cara.

Roberta, em sua inocência, não sabia ainda que Paulo era o cara. A presença da bolha da mesmisse a deixou em inércia a envolver-se com caras diferentes todos os dias. E isso ninguém explicava. Pois física não se explica. E ela continuava em seu ritmo, absorta ao mundo externo. Ligada apenas aos seus costumes.


Até que Paulo quebrou uma perna. Roberta não sabia que Paulo havia caído da escada. Roberta apenas não compreendia como podia Paulo ter quebrado a perna. E então Roberta saiu. E não encontrou mais Paulo. E encontrou Rafael.

Rafael era, como todos os caras diferentes de Roberta, um cara diferente. Mas o sexo foi outro. Conversa não existiu. Duas horas da manhã estava em casa. Rafael foi um cara diferente estranho. Ou seria Roberta quem estava estranha?

E então Roberta saiu novamente. Encontrou um cara com um só braço. O cara de um só braço foi ainda mais estranho que Rafael, o cara diferente estranho. Com o cara de um só braço não houve sexo, mas Roberta chegou em casa somente no outro dia à noite. O cara de um só braço fez Roberta se dar conta de dimensões que não estavam ao seu alcance enquanto não sabia que Paulo, agora com uma perna quebrada, era o cara. O cara de um só braço não tinha um braço.

Para Dani, "o cara" do cara de um só braço, não importava saber se ele havia perdido o braço em um acidente de carro, em uma máquina de fazer linguiças ou em uma briga de bar por uma garota. O que Dani precisava saber, e entender, era que o cara de um só braço estava, no momento, com apenas um braço. E pronto. Ela devia entender que, por algum motivo, um braço dele não estava ali no momento, sem cobrar justificativas de como seu braço havia sumido, sem tentar colar seu braço de volta com uma SuperBonder, sem tentar lembrar do dia em que poderia, sem perceber, ter arrancado o braço do cara de um só braço. E é isso que Dani estava fazendo.

Roberta, no outro dia, quando chegou em casa, não tentou lembrar se havia quebrado a perna de Paulo. Não quis colar a perna de Paulo, nem mesmo perguntou a Paulo como ele havia quebrado a perna.

Depende agora só de Paulo,o cara, contar ou não a Roberta que quebrou sua perna caindo de uma escada. Ele é quem decide se Roberta deve ou não saber do motivo de sua perna quebrada. A Roberta, nesse momento, não cabe fazer nada.

Sai a conhecer caras diferentes, até encontrar o cara. O mesmo cara. Outro cara. Mas o cara.