segunda-feira, 28 de junho de 2010

Carta a um estranho

não entrego o meu tesouro a todos, a qualquer um;

ele me pertence e dele faço o que quero.
antes, vão as opiniões, os comentários bestas,
as demonstrações de algum sentimento surgem
seja qual for o sentimento...
não o faço por ser tímida, mas gosto de saber com quem estou lidando
pois não são todos que merecem o melhor de mim
e não me chame de egoísta ou arrogante
não, não,
pode ser uma forma de defesa que tenho contra você, que não conheço
ou pode até ser o modo que encontrei para manter você perto por mais tempo, interessado em mim.
talvez não a melhor maneira, mas a melhor que eu encontrei.
isso eu não sei responder direito. ninguém saberia.
sou assim, e o que mais importa?

quero, antes, sentir você
e também preferiria, se eu pudesse escolher, que você não se entregasse a mim sem antes me conhecer
mas conhecer, eu falo, de verdade
felizmente, não posso escolher.
você não teria a sua graça se eu decidisse como eu queria que você se comportasse
e eu quero você com a sua graça!
e engulo-o assim, como você é.

mas lembro-me que ainda nem te conheço...

sexta-feira, 25 de junho de 2010

O Pau da Fernanda Young


Adriana decide, depois de adoráveis desencantos, se vingar do seu namorado de 24 anos, 14 anos mais novo que ela.

E a vingança se dá, literalmente, no ponto fraco de todo homem: o pau.

Vale a pena a leitura para muita mulher rir e muito homem temer. hehehe Além de que é uma história curta e gostosa de ler.
Fernanda Young escreve O Pau com o melhor do seu tom ácido e instigante.
Seguem abaixo minhas três frases preferidas do livro, que, na minha opinião, falam mais que qualquer resenha que eu for fazer.


"Se ficar de pau duro fosse bom, nenhum homem se masturbava, é ou não é? E é por se masturbarem tanto que sempre correm o risco de serem pegos."


"Adriana aprendeu ali, de uma vez por todas, vendo seu primeiro amor nu, com uma vagabunda, na mesma cama em que ela, horas antes, havia de entregue a ele, que o amor é realmente cego - até a primeira decepção. E que a visão que renasce, em quem amou cegamente e se viu enganado, tem lentes telescópicas. Da cegueira, você passa a enxergar tudo."

"Fomos criadas para acreditar nisso, que somos sempre vítimas, porque de certa forma ser violentada é mais fácil do que violentar. É como se fosse um último recurso de sobrevivência: vitimizar-se."

sábado, 19 de junho de 2010

Eu me visto para as mulheres...


Tentando traçar um histórico dos meus pensamentos para saber como cheguei a este assunto, logo achei o início. Recebi um e-mail qualquer, desses humorísticos, que a gente lê somente depois de deixá-lo uma semana esperando na Caixa de Entrada, quase que por prazer, ou talvez por vingança que falava sobre como mulheres demoram para se arrumar para um encontro e, em contrapartida, os homens nem ligam para o que elas estão vestindo e muito menos que demoraram tanto tempo para ficarem assim (ok, nem todos os homens, e também nem todas as mulheres mas segue o baile). Já fiquei meio revoltada com esse clichê barato, mas lembrei que era só um e-mail passado adiante para a lista de contatos inteira.

Mais calma, deparei-me no mesmo e-mail com uma frase que gostei. Decidi pesquisar mais à respeito. Aí foi o erro. Ou acerto!

Notei que muito se falava sobre a frase em diferentes blogs, de maneira crítica e, na maioria das vezes, "condenando" a mulher por se arrumar, gostar de se arrumar ou até por se arrumar em excesso(!), levando em conta que os homens não notam.

Peraí, peraí, peraí...
A frase era:
'Eu me visto para as mulheres e me dispo para os homens', da Angie Dickinson, atriz americana.

Concordo plenamente com a Angie: quem realmente repara na roupa e na produção de outra mulher é a mulher, mas daí dizer que por isso não é necessário nos arrumarmos, como se nos arrumássemos só por causa do homem que nos acompanha?

Mulheres vaidosas do meu Brasil,
hão de concordar que a nossa auto-estima se eleva e pra caralho quando fazemos uma boa maquiagem, sentimo-nos atraentes quando arrumamos o cabelo, pintamos as unhas. E quanto não vale uma pessoa com a auto-estima em alta?! É saudável e não custa nada.

Eu me visto e me arrumo, do jeito que eu quero, para que eu me sinta bem. Logo, eu me sentindo bem, a pessoa com quem estou está bem também, não necessariamente pela minha estética, mas pelo meu humor, meu alto-astral, justamente por estar bem comigo mesma.

Aí vem aquelas falando que não é só beleza exterior que importa e que há muito mais além disso. Mas é claro que há! E que bom que há. Coitado do Planeta, se tivesse que carregar somente corpinhos bonitos. Coitadas das pessoas que teriam que conviver apenas com corpinhos bonitos ao seu lado.

Não estou defendendo que a mulher deva se arrumar, mas que, se quiser, se arrume, gaste o tempo que for, troque de roupa quantas vezes quiser, até se atrasar uns minutinhos pode. Desde que se sinta bem consigo mesma. Isso é o que importa!

Mas bem... O que importa isso tudo? Afinal, esse texto vai ser só mais um no sistema de pesquisa do Google que faz um comentário crítico à respeito da frase da Angie Dickinson.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Dadiane leva e traz sorrisos

Caso alguém não saiba, estudo Comunicação Social com habilitação em Publicidade e Propaganda na Famecos(PUCRS). Estou no primeiro semestre ainda, mal começando, mas já tenho trabalhos e muita leitura.

O primeiro trabalho que requis maior dedicação foi da cadeira de Introdução ao Jornalismo.
Nós tivemos que ler o livro A Vida que Ninguém Vê, da premiadíssima jornalista gaúcha Eliane Brum! e o fiz com muito prazer, diga-se de passagem

O livro é formado por 21 reportagens (que mais parecem crônicas) que, durante o ano de 1999, aos sábados, foram publicados na coluna A Vida que Ninguém Vê da Zero Hora, jornal porto-alegrense.
O tema? Pessoas comuns que não virariam notícia; não são importantes, quase nem são lembradas. Invisíveis aos olhos. Durante a leitura, chorei de verdade e ri alto junto a tão delicada forma de escrever de Eliane.

Após a leitura, nossa missão era incorporarmos a autora.
Cada um deveria procurar uma pessoa qualquer e transformá-la em personagem de uma crônica-reportagem. Eu logo decidi que não pegaria alguém que eu já conhecesse para não facilitar o trabalho. Queria me livrar da timidez que às vezes me consome e aproveitar esse momento repórter, incorporando de vez o jornalismo nesse corpinho que vos escreve.

A primeira pessoa que me veio à cabeça foi algum engraxate da Praça da Alfândega, descartado por ser "clichê" demais, segundo amigos consultados. Pensei também na porteira do meu prédio, mas a dispensei por já conhecê-la, de certa forma. Pensei em um cobrador de ônibus... O cobrador de ônibus!
Só lembrei do cobrador de ônibus quando já estava com as luzes apagadas e com o lençol sobre minhas pernas, pronta para dormir. Peguei a caneta, o caderno, e saí a rabiscar perguntas que me vinham à mente, uma ultrapassando a outra. Estava decidido: a personagem da minha história seria um cobrador de ônibus.

Bem, depois de todas as perguntas bonitas impressas no papel, com espaço para perguntas novas que surgissem, mas com número de perguntas suficientes caso o entrevistado não fosse muito simpático extrovertido, fui à parada!
Esperei o primeiro ônibus que passasse na parada mais próxima da minha casa (a uns vinte passos da entrada do prédio) e, felizmente, um C3 apareceu. Logo depois de cumprimentar a cobradora e ser recebida com um enorme sorriso, perdi o pingo de vergonha que ainda restava e tivemos uma conversa bem legal. Gostei muito da receptividade da Dadiane e agradeço-lhe mais uma vez, aqui.

Bem, vamos ao texto, que eu só publico pois, particularmente, gostei bastante do resultado.

Dadiane leva e traz sorrisos

Dadiane Ferreira, com D mesmo. Dadinha, para que não confundam com Nadiane. Dadiane tem 29 anos e é casada. Não tem filhos. Em sua rotina corrida, deve até faltar tempo para um. De Gravataí a Porto Alegre todos os dias, como muitos trabalhadores. Mas da forma como ela é trazida diariamente de lá para cá, ela também leva de cá a acolá. Dadinha é a simpática cobradora do C3.

Nascida em Porto Alegre, passou a infância com os pais e a irmã mais velha em Gravataí. O pai tubaronense e a mãe santacruzense. Quando criança, seu sonho era “como qualquer menina” diz ela, ser professora. O sonho passou. Hoje é cobradora. O sonho não passou: o sonho apenas modificou-se! Dadinha fala com convicção que seu desejo é ser assistente social. E ela visivelmente tem o dom.

Mesmo ainda não estando no emprego a que realmente aspira, ela gosta da sua profissão. Mas não por ser cobradora de ônibus. Por ser cobradora do C3. O ônibus percorre somente o centro da cidade. O público é outro. É diferenciado. Além dos passageiros já serem conhecidos, sua maioria constitui-se de idosos. Idosos, sim, aquelas pessoas carentes. Mas muito mais que carentes, aquelas pessoas carinhosas. Aquelas pessoas educadas. Aquelas pessoas que não nasceram na época do stress e não vivem apressadas, sem nem olhar nos olhos de quem vê.

No final do ano, passageiros, motorista e cobradora comemoram a chegada do Papai Noel em um happy hour no maior clima natalino. Nos dias de seu aniversário, ela enfeita o ônibus todo com balões coloridos e festejam juntos, ela e seus quase colegas de trabalho. Ela festeja com seus passageiros. E ganha presentes. Não só no seu aniversário, Dadiane ganha presentes o ano todo. Chocolates e enfeites de cabelo são os mais frequentes. E ela esbanja alegria!

Foi parar na Carris através de concurso, como os outros funcionários. E já está há um ano e meio. Nunca trabalhou em outra empresa de transportes, mas já teve outras profissões. E já trabalhou em outras linhas da Carris também. Seu marido era funcionário da empresa, por isso ela decidiu trabalhar lá também. No início, as linhas em que trabalhava não eram fixas. Com o tempo e com a experiência, ela ganhou sua linha. E junto, seus passageiros e seu parceiro de viagem, o motorista. Hoje Dadinha trabalha oito horas e meia por dia, de segunda a sexta. Sempre com o C3. Sempre com o mesmo motorista. E no sábado ou no domingo, ela deixa o C3 para dar uma volta em outra linha. Mas o motorista, ah, o motorista continua lhe acompanhando.

Se ela trabalhasse em uma linha longe do centro, porém, ela não seria a Dadinha que é hoje. Quem faz a Dadinha ser Dadinha é a receptividade e o respeito dos passageiros com que ela convive diariamente. Acordando às 5 horas e indo dormir às 22:30, ela não merece cara feia nem xingamento algum. Nenhum cobrador merece! E há quem ainda chame cobrador de mau-humorado. Cobrador até pode andar de cara fechada, mas não o faz sem motivo. Apenas se defende da cara fechada dos passageiros. Fora do centro, ela afirma que a grande maioria dos passageiros é muito mau-educada. Principalmente os estudantes. Por isso, Dadiane fora do centro não seria Dadinha. Seria apenas uma cobradora de ônibus.

Apesar de Dadiane parecer muito distinta da maioria dos cobradores carrancudos que estão por Porto Alegre, ela tem uma coisa em comum com todos: ela odeia ônibus lotado. "