sexta-feira, 22 de outubro de 2010

"O Cara"

E eis que Paulo encontrou Roberta. Paulo Coelho, não. O Paulo. Somente Paulo. Não interessa o sobrenome de Paulo nessa história.Talvez em outra, mas não nessa. Ok, pare de insistir. Eu não vou contar. Acredito que Paulo nem tenha sobrenome ainda. Ele está recém nascendo.

Está bem. Paulo Klein. Está bem assim? Está satisfeito? Posso continuar a minha história agora ou tem mais alguma dúvida?

Paulo (Klein) encontrou Roberta. Foi em um show. Um show de rock. Pagode não faz show; faz alguma apresentação com algum outro nome, mas não show. No show de rock Roberta foi encontrada por Paulo. E foi salva de sua bolha da mesmisse.

A cada dia com uma pessoa diferente. A cada dia em um lugar diferente. A cada dia chegando em casa em horários diferentes. Mas então ela não fazia sempre a mesma coisa. Não estava no tédio. Roberta fazia sempre a mesma coisa, apenas com pessoas diferentes e em lugares diferentes. As conversas eram sempre as mesmas. O sexo era sempre igual. Saía e chegava em casa sempre depois das 5 horas. O que a mantinha presente no nosso mundo era sempre conhecer gente nova. Era o que ainda lhe motivava. Inconsciente.

Mas, ainda que no tédio, Roberta era feliz. E ela era feliz conscientemente. Roberta nem imaginava que em tamanho tédio a sua vida se encontrava. Até conhecer Paulo.

Roberta era "um cara legal". Não era a mulher mais bonita da noite. Não era também a mais popular. Nem mesmo a mulher que todos os caras queriam. Mas era um cara legal. E ele estava ali. Não interessava como ele era. Bastava ele estar ali.

E o encontro aconteceu.

Foi mais que um cara diferente. Foi o cara. Isso ela não sabia. Ela achava que era um cara diferente, apenas isso, como todos os outros. Mas Paulo tornou-se o cara diferente fixo. Roberta não conhecia mais caras diferentes. Paulo, para ela, era sempre outro cara. Diferente, mas sempre o mesmo. E a ela, Paulo bastava. Era por isso que Paulo não era, já naquela primeira noite, apenas mais um cara diferente. Era o cara.

Roberta, em sua inocência, não sabia ainda que Paulo era o cara. A presença da bolha da mesmisse a deixou em inércia a envolver-se com caras diferentes todos os dias. E isso ninguém explicava. Pois física não se explica. E ela continuava em seu ritmo, absorta ao mundo externo. Ligada apenas aos seus costumes.


Até que Paulo quebrou uma perna. Roberta não sabia que Paulo havia caído da escada. Roberta apenas não compreendia como podia Paulo ter quebrado a perna. E então Roberta saiu. E não encontrou mais Paulo. E encontrou Rafael.

Rafael era, como todos os caras diferentes de Roberta, um cara diferente. Mas o sexo foi outro. Conversa não existiu. Duas horas da manhã estava em casa. Rafael foi um cara diferente estranho. Ou seria Roberta quem estava estranha?

E então Roberta saiu novamente. Encontrou um cara com um só braço. O cara de um só braço foi ainda mais estranho que Rafael, o cara diferente estranho. Com o cara de um só braço não houve sexo, mas Roberta chegou em casa somente no outro dia à noite. O cara de um só braço fez Roberta se dar conta de dimensões que não estavam ao seu alcance enquanto não sabia que Paulo, agora com uma perna quebrada, era o cara. O cara de um só braço não tinha um braço.

Para Dani, "o cara" do cara de um só braço, não importava saber se ele havia perdido o braço em um acidente de carro, em uma máquina de fazer linguiças ou em uma briga de bar por uma garota. O que Dani precisava saber, e entender, era que o cara de um só braço estava, no momento, com apenas um braço. E pronto. Ela devia entender que, por algum motivo, um braço dele não estava ali no momento, sem cobrar justificativas de como seu braço havia sumido, sem tentar colar seu braço de volta com uma SuperBonder, sem tentar lembrar do dia em que poderia, sem perceber, ter arrancado o braço do cara de um só braço. E é isso que Dani estava fazendo.

Roberta, no outro dia, quando chegou em casa, não tentou lembrar se havia quebrado a perna de Paulo. Não quis colar a perna de Paulo, nem mesmo perguntou a Paulo como ele havia quebrado a perna.

Depende agora só de Paulo,o cara, contar ou não a Roberta que quebrou sua perna caindo de uma escada. Ele é quem decide se Roberta deve ou não saber do motivo de sua perna quebrada. A Roberta, nesse momento, não cabe fazer nada.

Sai a conhecer caras diferentes, até encontrar o cara. O mesmo cara. Outro cara. Mas o cara.

1 comentários:

renata disse...

amanda! puta que pariu, genial.