domingo, 4 de julho de 2010

E não pensa que eu fui por não te amar

No ônibus, voltando e ouvindo Los Hermanos gritar nos seus ouvidos. Aposta que estão até olhando para ela, mas ela está usando fones de ouvido e não vai baixar o volume.

Tira o eslástico que prende seus cabelos e pega uns fios cacheados com os dedos. Enrola-os freneticamente, deixando nervosa a senhora que está no banco de trás. Ela percebe, mas não está nem aí. Continua, com mais vontade, como se fosse a sua única saída.

Nota que não é a voz de Camelo que vai ouvir em seguida. As batidas estão mais fortes e Ozzy começa a cantar, mais raivoso do que nunca. Ela não entende, mas aumenta o volume. Se esquece.

Sente vontade de fumar, mas não pode. Maldito ônibus fechado. Pensa em acender um cigarro escondida no banheiro, porém está sentada ao lado de um policial; sabe que se sentiria intimidada na volta. E o policial não desiste de olhar para o lado...

Na rua, as nuvens continuam escuras, mas o sol retorna como o parente que esqueceu o óculos no final da festa. Sua atmosfera é outra. Nem a da rua, nem a do lado de dentro dos vidros fechados.

No ônibus, voltando, ele estava voltando. Ele voltou. O sol já não importava mais. Ele estava ali. O telefone caiu no chão. Ela acordou. Los Hermanos voltou e trouxe sua normalidade de volta. Ela também não voltaria. A viagem terminou. Desceu do ônibus; a bateria acabou; Camelo calou-se. Eu vou pra não voltar é a última frase que ele lhe canta.

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