sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Entre um gole e outro

Seus cabelos loiros não flutuavam como plumas ao vento, mas seus olhos não conseguiam fugir daqueles longos fios enrolados em múltiplos dreads. Sua blusa branca atraía as luzes coloridas da noite, chamando a atenção dele, que se esquecia de si mesmo naquela dança.

A cada gole que ele tomava, maior era sua fixação na garota à frente: a dona da pista de dança. Os diversos pingentes coloridos que ela carregava no pescoço só lhe aumentavam a vontade de tê-la para si. Junto com o balanço de seu corpo, distraída, eles balançavam de um lado para o outro como se atrapalhassem na hora de apertar aqueles tantos botões. Mas sua expressão demonstrava muita confiança e prazer no que fazia, em meio a risadas e movimentos com a cabeça, no ritmo da música.

E ele já nem dançava mais. Quase estático, como que viciado na sua beleza. Com tamanha delicadeza e perfeição, se ele tirasse os olhos dela a imagem à sua frente deixaria de existir, como se acordasse de um sonho bom. Então ele nada mais fazia além de observar cada detalhe daquela belíssima mulher. Seus olhos azuis atrás daquelas lentes de armação cor de petróleo. Sua suave pele branca, contrastando com as sardas sutis abaixo dos olhos e com o vermelho do batom que preenchia seus lábios finos. Seu nariz que, de tão grande, a cada gole de vodka que tomava esbarrava no copo. E complementava seu rosto harmoniosamente.

A cada troca de música ele devorava com os olhos suas unhas compridas, pintadas de preto. A cada movimento descobria uma nova tatuagem em seu braço. Até que, após outro gole, não achou-a mais no comando do som. Ela havia sumido. E então ele sentiu um beliscão, vindo de trás, na sua cintura.

Texto para a disciplina de Português Aplicado à Comunicação II

0 comentários: