sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

O problema não é esse

O ano já começou há 14 dias e ainda não aconteceu nada que tenha me distraído.

Na verdade, essa é a maior mentira de todas. Muitos lugares, muitas pessoas, muitos pensamentos, muito já me distraíram no ano de 2011. Mas em 2010 eu fui igualmente distraída pela exuberância do mundo, assim como em 2009, e oito, e sete...

A cada virada de ano que passa, as pessoas sentem uma necessidade imensa de rever as suas vidas, os seus planos. Novas metas são traçadas, dignas ações são prometidas, guarda-roupas são desarrumados para quase tudo ser recolocado no lugar e, por mais uma estação, ficar lá jogado sem uso, enquanto duas ou três peças foram doadas a pessoas sem condições de pagar por aquecimento que passam frio nas ruas. E essas poucas gramas de algodão enchem os corações dos doadores de compaixão, pois um ato de caridade foi realizado por eles, as pessoas de bom coração.


O problema não é esse.
Até aí eu entendo. O cidadão precisa fazer algo que lhe lembre o quão bom, solidário e organizado ele é.

Eu já reordenei o meu quarto inteiro. Também já doei roupas velhas e gastas. Eu já fiz listas compostas por mais ítens do que desejava de atividades que deveriam ser começadas imediatamente e que nem tardiamente chegaram perto de serem vividas. Já anotei os mil quilos que gostaria de perder duas mil vezes. Já revi a minha vida do início ao fim. As minhas relações. Os meus atos. Tanto os comemorados quando os escondidos. Eu nunca desejei, a ponto de anotar na minha agenda, um namorado, mas até desejar um namorado eu entendo e aceito. Tudo é válido.

O problema não é esse.
O problema é pensar que uma virada de ano faz mágica.

O sujeito passa o ano inteirinho esquecido de si e então, nos últimos dias do ano, acha que pode rever as merdas todas que fez na vida e planejá-la novamente, assim, dando um ctrl A + delete e recomeçando a escrevê-la do zero. Sendo que poucos dias atrás, no nascimento de Jesus Cristo seja louvado, esse mesmo sujeito zombou das crianças da família que passaram o ano inteiro demoniando e, no dia 24, agiram feito anjinhos para ganhar presente daquele velho gordo e suado que usa uma barba branca mais falsa que as mentirinhas inventadas por eles.

Eu também já passei por todas essas avaliações de mim mesma e tive todos esses desejos. A diferença é que eu faço isso quando estou com tempo livre, quando estou de férias, quando estou em um momento mais intimista. Não quando chega o final do ano.

E é por isso que eu estive tão afastada daqui.
A época em que as pessoas estão revendo sua vida é a época em que eu estou vivendo, se não estiver sofrendo demais com o calor, claro.

O meu blog já quase fechando um ano. O meu namoro fez dois meses ontem pelas 3 horas da manhã. E quando vê, sem piscar os olhos, estou eu em retrospectiva e introspecção na minha vida em um post que critica quem reavalia suas vidas. E somente na virada do ano, lógico.

Pensem mais nas vidas de vocês o ano inteiro, em todas as estações, não somente na virada de um ano para outro, que nada quer dizer além de organização cronológica. Sem querer fazer papel de mãe, mesmo já tendo o feito, despeço-me.

0 comentários: