sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

A invenção do século

Quando eu era criança, morava com o meu pai, a minha mãe e com o Maguila, o meu cachorro. Um pouco antes de completar 10 anos, passei a morar só com a minha mãe a maior parte do tempo e com o meu pai, o computador dele e algumas mulheres (diferentes a cada vez) a cada 15 dias, de sexta-feira a domingo. Pouco depois, o Simon, meu gato, veio morar conosco: com a minha mãe na maior parte do tempo e com o meu pai em alguns finais de semana, não todos. Depois foi a Julie, a gata, que não chegou a morar com o meu pai.

E então, mais tarde, minha mãe trouxe mais alguém para dentro de casa, meu pai teve mais uma filha e as coisas foram mudando. Passei a morar no meu quarto e a passear bastante, em dias variados, por várias casas diferentes.

Depois de terminar o colégio, passei a morar sozinha. Não sozinha, com amigas. Mas sem a família. Em outra cidade. Longe. Eu continuava visitando bastante e passava na casa dos dois, tanto da mãe, quanto do pai. Ainda assim, mais tempo na casa da mãe por ter um quarto lá ainda.

E aí começou a faculdade. E aí começou o estágio. E aí o tempo decidiu entrar em uma dieta eterna e rigorosa, com uma dedicação extrema, ficando cada vez menor e sem chances de voltar ao tamanho que tinha antes. E os finais de semana em todas essas diferentes casas tornaram-se mais velozes. Mais corridos. Mais curtos.

Eu passei a me dividir em sete, tentando fazer quarenta e poucas horas virarem mil. Cada minuto gasto era lamentado. E o celular tocava. Era o pai querendo me buscar, quando eu estava na dinda, a vó querendo saber quando eu iria, enquanto eu me despedia da irmã e a mãe perguntando se eu já havia chegado, quando ainda estava em Porto Alegre.

Tudo por telefone: a invenção do século. Passado, claro.

E tudo era "me avisa quando chegar", "me liga quando for pra eu buscar", "me dá um toque pra eu saber que horas sair". Até que eu cansei. E passei a marcar horários ao invés de realizar mais uma ligação, eu que não sou a melhor amiga dos telefones. 

Até que eu cansei, novamente.

E desisti, depois da segunda tentativa frustrada, e depois de minutos gastos e lamentados, e depois de desentendimentos desnecessários. Ninguém me entendia. Todos esperavam pela minha ligação, afinal, eu sempre ligava. Ou eu que decidia não ligar e não ligava para avisar que não ligaria.

Cansei de ligações em que o tema era a falta da ligação e voltei a ligar para avisar onde eu estava, o que estava comendo e quanto tempo mais ficaria e não ter que ligar depois. Decidi fazer as pazes e reestabelecer a minha amizade com o telefone celular, a invenção do século passado.

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PS: Por dois motivos esse post me lembrou Californication. Ok, três.
O primeiro: meu pai já foi tão safado quanto Hank Moody. O segundo: esse papo todo de celular e suas limitações para a comunicação efetiva e clara me lembrou um espisódio em que Becca, filha de Hank e Karen, ganha o primeiro celular dela. O vídeo abaixo é da primeira ligação entre ela e Hank. E terceiro e último motivo: Californication é simplesmente demais.

Hank, seu gato

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